Questões de Antropologia do ano 2004

A economia camponesa é uma expressão local da economia capitalista, sendo no essencial igual à última

A economia camponesa é uma economia familiar, sendo sua organização determinada pelo tamanho e composição da família e pela coordenação entre suas exigências de consumo e a quantidade de gente apta a trabalhar

Na economia camponesa o lucro é computado tomando-se o total da renda obtida e subtraindo as despesas de produção

Como uma economia em que se administra a escassez, o fator de maior interesse na economia camponesa é a remuneração da jornada de trabalho, com a qual vai se comer amanhã o que se ganhou hoje

A economia camponesa é de subsistência, não havendo nela a circulação de dinheiro.

O uso de assalariados nas unidades camponesas é de caráter permanente. O grupo doméstico fornece apenas trabalho temporário durante o ciclo agrícola

Nas unidades camponesas do nordeste brasileiro o uso de trabalho assalariado viabiliza a atividade dos membros da família camponesa e é uma condição para a realização do valor-família

O trabalhador assalariado substitui preferencialmente o filho mais novo do sexo masculino.

No nordeste do Brasil, assalariar-se permanentemente não implica a negação da autonomia do processo de trabalho nem a negação da condição de dono

Segundo a lógica da produção camponesa, um membro de uma família só se casa em famílias cujos membros ele pode potencialmente assalariar

A terra é percebida pelos camponeses em sua exterioridade, isto é, como um fator de produção do qual o camponês retira a sua sobrevivência.

A terra é percebida como uma mercadoria que é comprada e vendida no mercado, segundo a lei da oferta e da demanda

Os camponeses concebem a terra como a expressão de uma moralidade, como algo que é pensado e representado no contexto dos valores éticos

A terra é uma dádiva dada por Deus aos empresários rurais, que, por bondade ou interesse político, a cede aos camponeses

A terra é parte inerte da natureza que deve ser amansada pelo trabalho assalariado

Nas sociedades camponesas o chefe da família é o líder indisputável que faz a ligação direta entre a unidade produtiva e o sistema político nacional

Quando a terra e o trabalho tornam-se mercadorias, as coalizões corporadas de parentesco perdem seu monopólio sobre os recursos e as pessoas, ficando o indivíduo liberado para entrar em coalizões individuais. Nessas circunstâncias, o sistema político passa a ser organizado pelos laços de amizade expressiva ou emocional que unem as pessoas em díade

O relacionamento entre patrono e cliente é focado, abrangendo somente o interesse comum que no momento une um cliente a um patrono.

Nas sociedades camponesas a concentração do principal bem econômico (a terra) é correlata a dispersão do poder político nas mãos dos vários chefes de família

Os clientes devem manifestar e demonstrar sua lealdade ao patrono e, fazendo isso, tornam-se membros de uma facção que serve aos propósitos competitivos de um líder

Os movimentos de protesto entre os camponeses são centrados em um mito de uma ordem social mais justa e igualitária do que a do presente. Esse mito concede a eles uma visão comum de mundo, mas não implica uma estrutura organizacional para a ação

Os movimentos sociais camponeses caracterizam- se pela ausência de lideranças e de heróis ou figuras modelos

Os movimentos camponeses são diferentes das alianças políticas porque são estáveis e duradouros, nascendo de um sonho milenarista

Uma característica comum aos movimentos sociais entre os camponeses é sua natureza pacífica, sendo o derramamento de sangue um grande tabu

Originário de sociedades patriarcais, os movimentos sociais camponeses trazem em seu seio a contradição de ter sempre uma mulher na liderança