Leia o poema a seguir. Todas as vidas Cora Coralina Vive d

Leia o poema a seguir.
Todas as vidas Cora Coralina Vive dentro de mim uma cabocla velha de mau-olhado, acocorada ao pé do borralho, olhando para o fogo. Benze quebranto. Bota feitiço... Ogum. Orixá. Macumba, terreiro. Ogã, pai de santo...
Vive dentro de mim a lavadeira do Rio Vermelho. Seu cheiro gostoso d'água e sabão. Rodilha de pano. Trouxa de roupa, pedra de anil. Sua coroa verde de são-caetano.
Vive dentro de mim a mulher cozinheira. Pimenta e cebola. Quitute benfeito. Panela de barro. Taipa de lenha. Cozinha antiga toda pretinha. Bem cacheada de picumã. Pedra pontuda. Cumbuco de coco. Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim a mulher do povo. Bem proletária. Bem linguaruda, desabusada, sem preconceitos, de casca-grossa, de chinelinha, e filharada.
Vive dentro de mim a mulher roceira. - Enxerto da terra, meio casmurra. Trabalhadeira. Madrugadeira. Analfabeta. De pé no chão. Bem parideira. Bem criadeira. Seus doze filhos Seus vinte netos.
Vive dentro de mim a mulher da vida. Minha irmãzinha... Fingindo alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim: Na minha vida - a vida mera das obscuras.
Fonte: CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. São Paulo: Global Editora, 1983. 

Infere-se, pela leitura do poema, que esse sujeito discursivo feminino representa um “eu-poético” que traz dentro de si


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